Manuel Alegre no Coliseu dos Recreios, Lisboa, 20-01-2011:
"estou aqui também por uma outra visão da Europa que bem necessária é"
"Queremos uma Europa de cidadania, de democracia, de transparência, em que as decisões não sejam tomadas fora dos mecanismos institucionais contra as regras democráticas. Uma Europa de coesão e de solidariedade entre Estados iguais e soberanos, não uma Europa que se desloca para a concentração de poderes num centro muito poderoso, dirigido por um país muito poderoso contra os países periféricos. Não foi a essa Europa que nós aderimos.
Eu sou pela Europa e pelo velho sonho europeu, mas por uma Europa de transparência, de mais cidadania, de mais coesão, de mais solidariedade, de políticas de crescimento, de políticas de emprego. Não esta Europa onde a direita conservadora está a aproveitar para rasgar o pacto social e pôr em causa direitos sociais que custaram o sacrifício de gerações e gerações.
E nós temos uma palavra a dizer, uma palavra portuguesa, uma palavra crítica de Portugal. Como eu tenho dito por todo o lado, quando as naus portuguesas partiram para o mar desconhecido, nós criámos a primeira revolução cultural e científica que esteva na base do renascimento europeu. Fomos então Europa antes de Europa o ser. Não sei se o outro candidato sabe disso, ele que é tão bom aluno, tão bem comportado, tão obediente. Não somos europeus de segunda, somos europeus de primeira. E é preciso uma voz portuguesa, activa, uma voz que tem que ser uma voz também do Presidente da República, como foram no passado as vozes de Mário Soares e Jorge Sampaio. Uma voz livre, uma voz democrática, uma voz de Portugal. Não quero Portugal de joelhos, quero Portugal de pé – na economia, na política, na cultura."
"outra visão de Portugal"
"Restabelecer o primado da política, o poder político democrático a comandar a economia. Não os grandes interesses económicos a quererem capturar o poder político democrático que sai do voto popular, mas uma dimensão cultural da vida política. Não somos um grande país territorialmente, mas somos um grande país pela história, pela cultura, pela grande língua portuguesa. E temos que saber aproveitar essa riqueza que é o nosso capital principal. Porque ao contrário do que pensa o candidato que passa a vida a dar-nos lições de economia, uma nação não é só um manual ou uma sebenta de finanças. É a força da nossa língua. São os grandes livros que em português se escreveram, não só em Portugal, mas também no Brasil, em Angola e Moçambique e em Timor Leste. É Camões, é Fernando Pessoa, é Cecília de Meireles, é Carlos Drummond de Andrade, é o meu amigo Pepetela, é o Mia Couto. Mas também os nossos pintores, os nossos artistas, as nossas pedras, os nossos monumentos. É isso que é uma Pátria, é isso que é um país, é isso que é uma Nação. E é isso que um Presidente da República tem que saber projectar na Europa e no mundo."
do discurso da Campanha "Presidenciais 2011" ( ver discurso completo aqui )
Tó Zé